Rodrigo Balassiano, especialista em fundos estruturados e profundo conhecedor do mercado de capitais, aponta que os FIDCs setoriais representam uma das tendências mais promissoras da indústria de investimentos no Brasil. Com a crescente sofisticação dos investidores e o amadurecimento das estruturas de crédito, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) têm evoluído de forma significativa, adotando estratégias de especialização por setor para aumentar a eficiência, reduzir riscos e gerar retornos mais previsíveis.
A segmentação setorial permite que os FIDCs operem com maior foco e conhecimento sobre os riscos específicos de cada mercado, seja ele voltado ao agronegócio, saúde, educação, logística ou varejo. Essa especialização representa uma resposta natural às demandas do mercado por produtos de crédito mais transparentes, customizados e alinhados com a realidade operacional dos originadores de recebíveis.
Benefícios da especialização dos FIDCs setoriais
Segundo Rodrigo Balassiano, a especialização dos FIDCs permite um entendimento mais aprofundado do perfil dos devedores, dos ciclos econômicos e das práticas comerciais de cada segmento. Ao estruturar um fundo com foco exclusivo em um setor, o gestor consegue construir uma carteira mais coerente, com critérios de elegibilidade adaptados à dinâmica dos recebíveis, modelos de cobrança específicos e indicadores de risco mais refinados.
Além disso, essa especialização facilita o diálogo entre cedentes e investidores. Originadores setoriais, como redes de clínicas, escolas ou produtores agrícolas, se sentem mais seguros ao trabalhar com fundos que compreendem suas particularidades. Da mesma forma, investidores que desejam exposição a determinado setor encontram nos FIDCs segmentados uma porta de entrada qualificada, com governança reforçada e métricas de desempenho aderentes à realidade da cadeia produtiva.
Principais setores com crescimento de FIDCs especializados
Nos últimos anos, alguns setores têm se destacado pela criação de FIDCs temáticos, impulsionados por políticas públicas, necessidades de financiamento específicas ou maturidade operacional dos players envolvidos. Entre os segmentos com maior protagonismo, destacam-se:
1. Agronegócio
Com forte demanda por capital e grande volume de operações a prazo, o setor agro tem utilizado FIDCs para financiar produtores, cooperativas e distribuidores de insumos. A previsibilidade das safras, o acesso a CPRs e o uso de garantias reais tornam os FIDCs do agro especialmente atrativos.
2. Educação
Instituições de ensino, sobretudo privadas, possuem carteiras robustas de mensalidades parceladas, ideais para antecipação via FIDC. A especialização permite modelar critérios de crédito baseados na inadimplência sazonal e em indicadores como evasão escolar.
3. Saúde
Hospitais, clínicas e operadoras de saúde têm utilizado FIDCs para financiar pagamentos de convênios e reembolsos. O conhecimento técnico sobre prazos de repasse, glosas e sinistralidade é crucial para precificar corretamente os recebíveis.
4. Tecnologia e fintechs
Empresas digitais que originam crédito por meio de plataformas usam FIDCs para escalar suas operações. A especialização permite trabalhar com algoritmos de score e avaliar risco de forma mais granular e automatizada.
5. Logística e transporte
Empresas desse setor lidam com faturas de grandes embarcadores, contratos de longo prazo e alto volume de notas fiscais. FIDCs segmentados contribuem para dar liquidez à cadeia logística sem comprometer a capacidade operacional.

Alinhamento entre investidores e fundos especializados
De acordo com Rodrigo Balassiano, os FIDCs setoriais favorecem um melhor alinhamento entre perfil de risco dos ativos e apetite de retorno dos investidores. Ao investir em um fundo especializado, o cotista sabe exatamente em que tipo de recebível está se expondo, quais os principais riscos envolvidos e como é feita a gestão da carteira.
Essa clareza aumenta a atratividade do produto, sobretudo para investidores institucionais, que valorizam previsibilidade, histórico e governança. Além disso, fundos especializados tendem a desenvolver métricas mais robustas de risco, como inadimplência média do setor, volume médio por contrato e tempo médio de recebimento.
Essa maturidade na gestão impulsiona o interesse de fundos de pensão, seguradoras e family offices, que passam a ver os FIDCs não apenas como instrumentos de antecipação de crédito, mas como veículos de investimento consistentes e alinhados com suas estratégias de alocação setorial.
O papel da regulação na expansão dos FIDCs setoriais
A ICVM 175, ao consolidar as normas dos fundos de investimento, também reforça a segurança jurídica para a criação de FIDCs especializados. A exigência de transparência, padronização dos relatórios e maior detalhamento das políticas de crédito permite que os fundos setoriais sejam estruturados com mais solidez, facilitando a diligência dos investidores.
Conforme analisa Rodrigo Balassiano, a regulação cria um ambiente propício para que a especialização avance com responsabilidade e governança. A segmentação setorial exige monitoramento constante, relatórios com dados específicos e um corpo técnico capacitado para lidar com as nuances jurídicas, operacionais e comerciais de cada setor.
Conclusão
Os FIDCs setoriais representam uma nova etapa na evolução da indústria de crédito estruturado no Brasil. Ao permitir que os fundos atuem com mais foco, precisão e conhecimento sobre os riscos e oportunidades de cada setor, a especialização contribui para a eficiência dos fluxos de financiamento e para o amadurecimento do mercado.
A visão de Rodrigo Balassiano reforça que a especialização dos FIDCs não é apenas uma tendência — é uma necessidade para tornar o sistema mais transparente, previsível e alinhado com a realidade dos negócios. Com regulação robusta, tecnologia adequada e gestão qualificada, os FIDCs setoriais têm tudo para se consolidar como instrumentos centrais no financiamento da economia real.
Autor: Aksel D. Costa